Nosso
tema, ou dispositivo geral, é um convite a exploração dos desvios e
rotas de fuga, tanto da cidade quanto de nós mesmos. Todas as quatros pesquisas têm este dispositivo como guia.
Transversalmente, as quatro pesquisas já
em desenvolvimento desenham suas trajetórias inspirados por um debate
estético-conceitual sobre identidade e gênero e as tensões entre
público/privado, anonimato/intimidade; assumindo também como postura uma
abordagem de criação dos desvios e rotas de fuga sobre estes assuntos.
Os quatro artistas trazem em suas obras-percursos-poéticas a busca por
uma desmaterialização dos padrões vistos como fixos em nossa sociedade.
O
intuito é desestabilizar certos comportamentos condicionados, seja
acerca do uso e ocupação dos espaços públicos, seja acerca do masculino e
do feminino. Abrindo margem, assim, para uma reflexão coletiva e
pública de como ambos extremos polarizados enxergam seus mútuos papéis
nos conflitos que hoje permeiam nosso dia a dia. Para isso, os artistas
partem da apropriação de ações cotidianas, descontextualizando-as ao
ponto de gerar sua resignificação poética no campo das artes.
As pesquisas em processo são:
Leve ]me[ / Flávio Rabelo:
Na ação, o performer, com olhos vendados, se entrega para um passeio
onde será guiado pelo olhar dos participantes. A deriva do encontro se
cria nas tensões sutis entre as provocações do performer e as decisões
sobre que caminho seguir. Esta série materializa um estudo em processo
sobre Ophélia, da obra Hamlet, de Willian Shaskepeare, recortando a
tensão do estado de loucura atribuido a personagem e a imagem clássica
de seu corpo entregue ao fluxo das águas do rio. Na configuração das
ações performativas, a metáfora dos fluxos carrega o performer pelos
braços: o rio-rua, o rio-outro, o rio-memória e o rio que se atualiza e
se esvai a cada instante compartilhado entre os participantes. Uma
reflexão sobre o tempo, a morte e a efemeridade dos encontros.
Entre Territórios / James Turpin: Aonde estão as fronteiras? Que leis e comportamentos governam o território que vc tem e que vc frequenta? Como seria o mundo se nós já não obedecessemos as noções de território? Se fossemos capazes de mover-se livremente e atravessar fronteiras para o nosso território escolhido assim como o capital, o comércio, as telecomunicações e a poluição podem mover-se livremente? E se pudéssemos, que efeito isso teria sobre nossos próprios conceitos de território e espaço pessoal?
Entre Territorios é uma performance íntima e interativa que possibilita a plateia refletir sobre espaço, pertencimento e convivência.
O participante é guiado através da paisagem urbana por uma gravação de áudio que contém ludicas tarefas e questões que o levará a tomar decisões manifestadas em simples acoes fisicas, baseadas em sua politica pessoal sobre territórios e fronteiras, no ambito social e pessoal em diferentes escalas. Sendo convidado a experenciar uma jornada entre o espaço urbano que o levara ao encontro com o performer instalado num territorio urbano (Um banco, uma faixa de pedestre , um ponto de onibus).
O encontro possibilita uma coreografia responsiva onde o participante se torna testemunha ou compoe um dueto onde pode ser "invisível" para as pessoas em trânsito pela cidade e passar desapercebido, num momento breve, intimo e compartilhado entre territórios.
Espelho 3D / Raquel Aguilera:
A ação consiste num convite para a troca de roupa entre a performer e o
participante. Esta troca será feita em pequenos lugares privados em
espaços públicos; como banheiros de botequim, provadores de roupas,
cabines telefônicas, pequenos becos etc. Arrisca-se, assim, rompimentos
instantâneos das fronteiras preestabelecidas do convívio social para se
criar uma atmosfera de intimidade entre espectador e performer.
Passageiro / Roberto Rezende:
Um carro em movimento pela cidade, criando um refúgio para mim e você.
Um mundo à parte. Um relicário construído em meio ao caos. A exploração
das linhas tênues entre o privado e público para criar um espaço
compartilhado. O que pode se revelar no limite da relação estabelecida
neste espaço dito privado contido no espaço dito público? A ação se
utiliza de principios das Derivas e de diálogos dos personagens Woyzeck e
Andreas e Woyzeck e Marie, contidos na obra “Woyzeck”, de Georg
Büchner, para criar a sensação de deslocamento numa atmosfera de
silêncios.
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